CMPA - Depoimento de um ex-soldado
Porto Alegre (RS) - O ex-soldado Luca Mensinni de Lara Calcanhotto, ao se despedir do CMPA e do Exército Brasileiro no dia 12 de junho, publicou um belo e realístico texto de despedida em um rede social.
"A vida é uma caixinha de surpresa e a qualquer momento podem ocorrer coisas que não estavam nos nossos planos.
O Serviço Militar Obrigatório, que para alguns é um sonho, no meu caso foi diferente, foi quase um pesadelo. Ocorreu uma mudança muito brusca na minha vida e na vida de todos os 78 soldados que foram incorporados comigo. Horário muito oscilante e extenso, serviço muito desgastante e com uma ajuda de custo muito baixa, que muitos têm a audácia de chamar de “salário”.
Muitos dizem que servir no Exército é um ano perdido na vida. Muito pelo contrário.
Foi no CMPA que aprendi coisas que em nenhum lugar do mundo eu aprenderia, coisas que na vida civil passam despercebidas. Aprendi a ter respeito com o próximo com mais intensidade (pois lá você aprende, ou aprende), aprendi a dar valor até mesmo a um copo d’água (pois só Deus sabe o sufoco que era dividir um cantil de água com muitas pessoas, quando não jogavam a água em nossas cabeças), dar valor a minha cama quando via o sol nascer e mal tinha dormido.
Pessoas que nunca se falaram antes e que nem tinham se visto antes, ajudando umas as outras como se fossem amigos de infância; afinal, só o trauma coletivo gera união.
Sentir saudade de se sentar à mesa da minha casa pra comer, quando tínhamos apenas 10 minutos para fazer a refeição e entrar em forma. E mesmo nesses momentos ruins, ainda tirávamos força de não sei onde pra fazer palhaçadas, piadas idiotas e coisas do tipo. São coisas pequenas, sim, mas só sentimos falta quando não temos.
Foi a experiência mais incrível, diferente, desgastante, estressante (não há palavras para descrever tal sentimento) que passei e que levarei comigo por toda minha vida e sentirei orgulho de ter vivido. Se todos passassem por essa experiência e absorvessem tudo de bom que é ensinado, certamente a sociedade seria melhor.
Por mais que não fosse da minha vontade servir, eu executei tudo que me foi destinado da melhor maneira possível, como sempre fiz na minha vida, e isso eu tenho a agradecer ao meu Pai e minha Mãe que me ensinaram esses valores desde pequeno.
Só tenho a agradecer a todos que estiveram comigo nesse período. Peço desculpas se ofendi alguém, desculpas aos que tiveram que aguentar meu enjoamento, só falando de baixa, baixa e baixa... Marcando no calendário os dias que faltavam pra sair.
Enfim, o dia tão esperado chegou! Estou saindo de cabeça erguida, com sensação de dever cumprido!
Parabéns a todos que cumpriram essa missão e que levem pra vida o que de bom lá aprenderam.
Tenham certeza: um dia a saudade vai bater (por mais sugado que tenha sido o seu serviço militar obrigatório)."
Foto: Divulgação
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